PURELINK
Uma das revelações do ano passado, “Signs” imediatamente provocou encanto a quem consigo de cruzou. A singular tela sonora de infusões, ondulações e outras metamorfoses, posicionou os Purelink enquanto caso exemplar de música essencial que motiva a entrega e partilha genuínas. Evitando os habituais refúgios do espectro ambiental, este trio de Chicago evoca uma memória distorcida em volta do dub, shoegaze, glitch, jungle e tantas outras manifestações. Cada elemento se amalgama num prazenteiro jogo textural de formas abstratas, nunca realmente terminado, e por isso, sempre expansivo. Um fluxo tão natural como o momento que inspirou os três amigos a criarem este projecto comum. De uma sessão de improviso entre os seus computadores e uma mixer, pouco antes da pandemia, acabariam por encontrar um vasto território de som em estado líquido.
De resto, o poder gravitacional das suas peças ganha uma óbvia dimensão através da sensibilidade percussiva dos Purelink. Existe uma noção composicional, repleta de melodias subliminares e harmonias inusitadas, numa lógica de progressão infinita. Com momentos mais borbulhantes, a ecoar os exercícios quase-meditativos de Huerco S. ou Barker, escutamos microtonalidades aparentemente inexistentes e sentimos as nuvens originárias desta condensação de sons nas pontas dos dedos. Outra estreia nacional no Vale Perdido - e no melhor timing possível.
XCI
XCI é figura disruptiva e um dos novos nomes a quem devemos prestar atenção. Elege a música mais visceral como o punk, o industrial, a EBM e a slow rave como maiores traços da sua personalidade enquanto DJ. A curiosidade é uma das suas maiores armas, tendo os ouvidos atentos a qualquer manifestação proveniente de editoras, programas de rádio ou de outros DJs locais, tendo um interesse constante no intercâmbio de ideias. O mais chamativo da sua abordagem ao DJing é o lado crú com que imagina ligações e a imprevisibilidade com que as concretiza. Encontra fluidez evitando rimas, provocando embates abruptos e arriscando aritméticas com um carácter fora do comum. Diogo, aka XCI, traz um ideal indomável no qual nos queremos perder, e faz, assim, todo o sentido que se junte a nós na segunda edição do Vale Perdido.